Rituais e Tradição no Muay Thai
Saiba sobre os rituais e tradições do Muay Thai que acompanharam os lutadores desde o surgimento desta Arte Marcial até os dias de hoje :
A tradição de uma série de rituais é referência no muay thai
desde os seus primórdios até aos dias de hoje, sendo que continuam
reverenciados enquanto parte fulcral desta tradicional arte marcial.Para o
praticante de muay thai esta disciplina, mais do que um desporto de combate, é
considerada uma filosofia, sendo adoptada por muitos como um estilo de vida.Através
de rituais realizados antes dos combates, os atletas procuram saberes
fundamentais relacionados com a verdade, com a mente, com o conhecimento, onde
demonstram e procuram forças e proteção espiritual para o combate
respetivo. Cada um destes elementos do muay thai tradicional está profundamente
ligado com a religião budista e crenças particulares do povo tailandês.A
devoção budista desta nação pode ser observada na prática e nos seus costumes.
Os templos budistas continuam a ser diariamente frequentados por lutadores e
treinadores que neles realizam as suas preces, solicitando proteção e sucesso
nas suas carreiras. Muito antes da religião budista ter chegado ao povo
tailandês, este já possuíam uma cultura, crendo completamente na existência da vida
após a morte e nos seus próprios espíritos protetores, que acreditam estarem
presentes no muay thai. A religião do povo tailandês abrange mais do que a
simples devoção budista e isto pode ser observado na prática quotidiana dos
templos. Muito antes do budismo se instaurar nas terras de Sião, o povo thai
era animista, ou seja, acreditava na existência de espíritos presentes em toda
a parte.O budismo foi ocupando progressivamente o seu lugar de uma forma
organizada mas sem eliminar por completo a crença anterior. Um dos costumes
religiosos do povo tailandês consiste na utilização de um altar conhecido como casa
dos espíritos, por eles designado de san phra phum (em tailandês: ศาลพระภูมิ).
Cada centro de treino tem o seu pequeno local de culto sendo este adornado
todos os dias com grinaldas de jasmim frescas e com oferendas de comida e
bebida. Paralelamente, o povo tailandês acredita em amuletos da sorte e para o
lutador tailandês existem dois dos quais este nunca se separa: o mongkon
(coroa) e o kruang Ruang (bracelete). Não se sabe com precisão quando é
que estes dois objectos sagrados se tornaram parte integrante do muay thai. A
opinião geral é de que os mesmos foram introduzidos pelo Príncipe Negro,
por volta do século XVI, como um elemento essencial dos rituais de combate.
Wai kru
O wai kru também designado de khuen kru
refere-se a uma cerimónia que tem como objetivo homenagear o mestre. Todos os
anos é feita uma homenagem ao mestre do respetivo campo, a que se denomina yohk
kru. Contudo, sempre que os pupilos queiram usar o conhecimento que lhes
foi ensinado, começam por mostrar o seu respeito homenageando o seu mestre com
uma dança previamente desenvolvida, que antecede o combate.Assim, o wai kru
consiste numa primeira parte da dança, durante a qual o lutador percorre o
ringue caminhando ao longo do perímetro circunscrito pelas cordas. Este atua
com uma pausa em cada um dos cantos, rezando uma pequena oração. O ato de
percorrer o ringue apresenta como simbolismo o delimitar o mesmo, conjurando
infortúnios e protegendo o lutador durante todo o confronto. Seguidamente, o
atleta dirige-se ao centro do ringue, ajoelhando-se voltado para o seu campo de
treino. Pausadamente, une as suas luvas em frente da sua face, começando a
inclinar-se enquanto reza pequenas orações budistas. Este conjunto de movimentos
é repetido por três vezes, prestando homenagem a três entidades divinas.
Durante estas preces o lutador dignifica Buda, a Sangha (ordem dos monges) e o Darma
(os ensinamentos de Buda). Simultaneamente, o atleta dá graças ao seu mestre,
ao seu campo e aos seus antepassados do muay thai. Quanto à etimologia do nome,
wai significa "retribuir respeito" enquanto que kru
significa "professor"; conjugando, obtém-se acepção de
"retribuir respeito ao professor".
Ram muay
Subsequentemente ao ritual
wai kru, e em movimentos sequenciais, o
lutador começa a desenvolver uma lenta série de movimentos estilizados, o
ram
muay, sendo este executado ao ritmo da música que conduz o lutador em
direcção às quatro cordas do ringue em busca de proteção. Cada atleta elabora
uma dança própria que se diferencia de qualquer outro.Alguns dos lutadores
incorporam movimentos únicos do da região de onde são oriundos, enquanto que
outros atletas simplesmente acrescentam movimentos próprios. O ritual tem como
objetivo manter afastados os espíritos do mal, sendo empregue sempre antes dos
confrontos com o propósito de que nenhum mal ocorra para com o lutador e o seu
mestre. Em suma, o
ram muay tornou-se um entretenimento adicional para o
espectador do muay thai e um alongamento que consiste em desenvolver uma série
de movimentos previamente estabelecidos ou improvisados dentro do ringue.Além
de ser uma tradição litúrgica, esta série ritmada de gestos e de passos serve
também como aquecimento antes do início do combate, sendo igualmente uma forma
de relaxamento que prepara o competidor física e mentalmente. Os lutadores que
apresentam o mesmo estilo de dança são da mesma escola. Existe a crença que a
prática do
ram muay traz sorte e protege contra acontecimentos funestos.
O
ram muay é executado de acordo com as instruções e estilo do
treinador, variando de região para região e de treinador para treinador. Em
todo o treino de muay thai, o
ram muay constitui uma parte fundamental
da aprendizagem.
Para que o preceito seja possível, existe um costume aplicado previamente
que determina a relação futura entre o aluno e o mestre. O
khuen kru ou
yohk
kru é denominado aquando o instrutor aceita o estudante, assim como quando
o estudante aceita o instrutor para treiná-lo. No passado, o aluno era obrigado
a servir o seu mestre por um determinado período de tempo antes do treino
propriamente dito ter início. Durante este período o mestre observava o aluno
assegurando-se a confiabilidade do mesmo, da sua honestidade e capacidade,
atributos estes de alguém digno à aprendizagem desta arte. Uma vez
correspondidas as expectativas quanto ao desempenho do aluno, o treinador
determinaria administrar o
khuen kru.Esta cerimónia marca o ponto em que
mestre e aluno se aceitam mutuamente para o exercer de uma aprendizagem útil e
proveitosa. O estudante passa ao dever de cumprir as regras e regulamentos
estatuídos pelo seu mestre. O
ram muay era executado no passado como
forma de prestar homenagem ao rei que era normalmente um espectador assíduo das
grandes competições. Consequentemente, o
ram muay tornou-se uma tradição
que preserva a arte do muay thai, não permitindo a perda da sua autenticidade.
Este rito de passos e gestos cadenciados, é pois a primeira etapa a ser
transmitida ao principiante da belicosa arte tailandesa.
Saudação
Depois de completos os rituais
wai kru e
ram muay, tanto o
lutador como o seu mestre realizam uma saudação. Comum entre os praticantes da
religião budista, esta saudação é efectuada com as mãos juntas à frente do
rosto, seguindo-se uma pequena flexão frontal com a cabeça e tronco.As mãos
devem estar posicionadas mais à frente dependendo da importância da pessoa que
se cumprimenta. Esta saudação realiza-se em todas as ocasiões de encontro,
pronunciando-se as palavras
sawadee krap ou
kaa kru muay. Por sua
vez, aquando a saudação feminina, são proferidas as palavras
sawadee kaa
como cumprimento feminino.
Mongkon
O mongkon refere-se a uma coroa usada pelos lutadores
quando entram no ringue. Este objecto sagrado é tradicionalmente benzido em
sete mosteiros budistas, sendo colocado na cabeça do lutador antes do mesmo
entrar no ringue de combate e, naturalmente, de serem executados os rituais wai
kru e ram muay.O mongkon pertence ao mestre e ao campo de
treino do lutador. Todos os atletas de determinado campo utilizam o mesmo mongkon.Este
é colocado na cabeça do lutador antes do mesmo se deslocar para o ringue,
precedido de uma breve oração, que se acredita que protegerá o lutador de
graves lesões, sendo que expulsará os espíritos negativos da área de combate.
Por fim, o sagrado objecto é removido do lutador quando este termina uma série
de movimentos sequenciais que completam o wai kru e o ram muay. A
colocação e remoção do mongkon é executada, geralmente, pelo treinador
do ginásio, contudo pode também ser efectuada pelo pai do lutador ou alguém
bastante próximo do mesmo. O mongkon é único para cada campo.Este objeto
purificado permite que, através da sua posição e formato, seja possível
distinguir o respectivo local da Tailândia de onde o atleta é proveniente. No
passado, caso a parte de trás do mongkon estivesse apontada para cima,
significava que o lutador era originário do norte da Tailândia. Uma vez que a
parte de trás estivesse apontada para baixo, então o mesmo pertencia ao sul do
país. Adicionalmente, se a extremidade posterior estivesse apontada para trás,
então o atleta pertencia à zona centro da Tailândia.Outrora, os lutadores
estavam deveras interditos de transportar ou colocar em si mesmos este objeto.
Contudo, é hoje comum que o mongkon seja já segurado pelos atletas,
sobretudo no ocidente. Como peça sagrada, e de acordo com as tradições budistas,
o mongkon é sempre guardado acima da cabeça de todos na sua presença e
nunca é suposto que o mesmo toque o solo.
Paprachiat
O paprachiat também conhecido por prajied ou kruang
ruang refere-se a uma corda trançada colocada no braço do lutador. Ao
contrário do mongkon este é um objeto pessoal.O amuleto sagrado é
oferecido ao lutador antes de este iniciar a sua carreira no campo de treino
durante o seu período de formação espiritual que deve ocorrer por um tempo de
aproximadamente seis meses num mosteiro. Ao longo da cerimónia final no
mosteiro, o amuleto é benzido pelos monges, transformando-se num importante talismã.
Ao longo do tempo, e principalmente em regiões fora da Tailândia, estes
formalismos foram-se perdendo, no entanto outros ainda se mantém. O kruang
ruang é consumado a partir de tecido proveniente de roupas sagradas de um
monge, assim como de roupas de um membro da família do lutador. Este pode usar
o kruang ruang em apenas um dos braços, evidenciando qual dos seus
braços é o mais forte. Porém, alguns estádios exigem que o objecto deva ser
utilizado em ambos os braços, como é exemplo o estádio Lumpinee. Tal como no mongkon,
acredita-se que o amuleto providência sorte, protegendo o lutador durante o
combate.
Phuang malai
Também dentro das tradições está presente o
phuang malai,
uma grinalda de flores que é colocada no pescoço do lutador. O
phuang malai
é oferecido pelos colegas ao lutador como forma de amuleto e desejo de sorte.
Estas flores, normalmente de jasmim, são firmadas entre si, formando uma
gargantilha suficientemente grande para que o lutador a possa usar à volta do
seu pescoço. Na tradição budista, as flores simbolizam a vida, a morte e a
volatilidade da existência.O
phuang malai não é oriundo do muay thai,
tal como o
mongkon e o
kruang ruang, este foi incorporado no
desporto por influência da cultura tailandesa, no entanto, é frequente o
lutador transportar o
phuang malai para dentro do ringue, onde é
retirado depois das danças cerimoniais e antes do combate.
Música tradicional do muay thai
A música de muay thai, designada de sarama é uma
característica única desta arte marcial, sendo tocada antes e durante toda a
sessão de combate. Apesar do muay thai ter vindo a sofrer um constante
desenvolvimento desde o seu surgimento até à actualidade, a música empregue
desde há centenas de anos atrás prevaleceu inalterada até aos dias de hoje. A
utilização da flauta e acompanhamento musical de percussão durante o
combate, é considerada uma
particularidade do muay thai. No espaço de tempo em que decorre a dança é
frequentemente utilizado um gravador (cassete, CD) para transmissão da música,
no entanto durante o confronto físico tornou-se imprescindível a música ao
vivo.Enquanto decorrem os rituais preparatórios para o combate do lutador, o
ritmo da música aumenta e diminui, como modo de encorajamento dos lutadores.
Mais lenta para o ram muay e wai khru e mais impetuosa no
decorrer do combate, esta música é interpretada ao vivo por um grupo de quatro
músicos, em que cada um toca um instrumento particular. Estes instrumentos são
empregues na realização da música para o muay thai designadamente a Pi Java,
um clarinete, o qual é fundamental para a melodia; um par de tambores designado
de klog kaak; ching que se trata de pequenos pratos em ferro,
bronze ou latão; e outro tipo de tambor originário do sul da Tailândia,
denominado de mong kong.
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