Não sei muita coisa a respeito de judô. Sempre me pareceu que uma
luta de judô consiste em um tentando desarrumar o pijama do outro. Mas
uma coisa me surpreendeu, vendo o judô das olimpíadas na TV: como judoca
é emotivo.
Tem-se visto manifestações de sensibilidade em outras
modalidades, claro. Todo mundo se emociona na vitória ou na derrota, na
hora das medalhas e na hora dos hinos. Mas você imaginaria que judocas
fossem pessoas duronas, que soubessem conter suas emoções. O simples
fato de o puxa-puxa das suas lutas não desandar em brigas de rua, com
pontapés e ofensas à mãe (pelo contrário, nada mais civilizado do que as
formalidades entre os lutadores antes e depois das lutas), seria uma
prova de controle absoluto. Mas não, judocas choram quando ganham e
choram quando perdem. O que não deixa de ser muito simpático.
Sempre
achei que as olimpíadas se tornariam mais simpáticas se incluíssem o
que se poderia chamar de esportes espontâneos. Por exemplo: queda de
braço e bolinha de gude. A incorporação destas modalidades populares
favoreceria países sem tradição olímpica, que nunca competem nos
esportes nobres, mas poderiam muito bem mandar uma delegação vencedora
de jogadores de pauzinho (também, conhecido como, desculpe, porrinha).
Qualquer
frequentador de bar brasileiro conhece o jogo de pega-bolacha, que
consiste em empilhar bolachas de chope na borda da mesa, mandá-las para o
alto com um golpe e tentar agarrá-las no ar. Duvido que o Brasil
encontrasse adversário à sua altura numa competição de pega-bolacha.
Há
esportes espontâneos com uma longa história que quem praticou em
criança nunca esquece, como bater figurinha. Com alguns meses de
treinamento, qualquer adulto pode recuperar sua habilidade em bater
figurinha e ir para os Jogos.
Outras modalidades: embaixada com
laranja ou qualquer outra coisa esférica; tiro ao alvo com bodoque;
arremesso de invólucro de canudo soprando o canudo; par ou impar. Etc,
etc.
E não vamos nem falar nos vários jogos de cartas, como o
truco, nos quais nossas chances de ganhar o ouro seriam grandes. Talvez
houvesse alguma dificuldade em acordar a delegação do pôquer para o
desfile inaugural, e imbuir todo o mundo do espírito olímpico, mas fora
isso...
Fonte : OGlobo
segunda-feira, 24 de junho de 2013
O Judô, por Luis Fernando Veríssimo
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