Karate: A Arte das Mãos Vazias
No fim do século XIX, o caratê ainda era marcado de modo
forte por quem o ensinava, não havia, posto que houvesse similitudes entre as
técnicas, um padrão, o que dificultava sua maior aceitação fora de círculos
restritos, porque era praticado e ensinado num rígido esquema de
mestre/aluno. Nesse
meio tempo, sobreveio a final anexação de Ryukyu, em 1875, tornando-se a província de
Oquinaua.
Todavia, o que poderia ser o fim tornou-se uma oportunidade, pois terminou com o
isolamento da população do arquipélago, incorporados de vez à população
nipônica. E coube a Anko Itosu, um discípulo de
Matsumura e secretário do rei de Oquinaua, usar de sua influência para tentar
disseminar a arte marcial.
O mestre via o te não somente como arte
marcial mas, principalmente, como uma forma de desenvolver caráter, disciplina e
físico das crianças. Ainda assim, o
mestre julgava que os métodos utilizados até a época não eram práticos: o
te era ensinado basicamente por intermédio do treino repetitivo dos kata. Então, Itosu
simplificou o treino a unidades fundamentais, os kihons, que são as técnicas
compreendidas em si mesmas, um soco, uma esquiva, uma base, e, além,
compilou a série de katas Pinan com técnicas mais simples e
que passariam a formar o currículo introdutório. A
mudança resultou na diminuição, supressão em alguns casos, de táticas de luta,
mas reforçou o caráter esportivo, para benefício da saúde: deu-se relevo a
postura, mobilidade, flexibilidade, tensão, respiração e
relaxamento.
Atribui-se ao mestre Itosu a mudança de denominação para
karate (空手, mãos vazias), como forma de vencer
as barreiras culturais, as resistências para aceitação, pois como algo com
origem chinesa não era visto com bons olhos, ademais porque havia tensões
latentes entres os dois países.
Em 1900, aconteceu uma grande emigração desde
Oquinaua até o Havaí, resultando na primeira
mostra do caratê a ocidentais, eis que o Havaí tinha sido anexado pelos E.U.A havia aproximadamente dois
anos.
O caratê tornou-se esporte oficial em 1902. Evento dramático no
desenvolvimento do caratê que é o ponto em que se aperfeiçoa a transição de arte
marcial para disciplina física, deixando ser visto apenas como meio de autodefesa.
Como
resultado de seu progresso, Anko Itosu crê ser possível exportar o caratê para o
resto do Japão e, em começos do século XX, passa a
empreender esforços para tanto, mas não consegue lograr sucesso.
Paralelos a
esses eventos, outro influente mestre, Kanryo Higashionna,
promovia por si outras mudanças. Ele desenvolvia um estilo peculiar que mesclava
técnicas suaves, evasivas e defensivas (como esquivas e projeções), e menos as
rígidas, e tinha como discípulos Chojun Miyagi e Kenwa
Mabuni. A exemplo de Itosu, Higashionna conseguiu fomentar os valores neles
que levaram até as mudanças futuras que tornariam o caratê mais aceitável.
Em
que pesem a evolução que arte estava experimentando e havendo a fama de ser um
estilo de luta eficaz, fama essa que já havia muito corria pelo Japão, ainda era
pouco conhecida. Não se sabia realmente muito sobre suas características, fora
os praticantes oquinauenses e alguns poucos fora desse círculo ainda
fechado.
Alguns fatores contribuíram, entretanto, para a divulgação do
caratê. Um desses fatores era a mentalidade corrente à época que, mesmo com o
processo de disseminação dos costumes ocidentais iniciado com a Restauração
Meiji, ainda era muito apegada à figura do guerreiro, não sendo incomum o lance
de desafios a lutadores proeminentes ou mesmo a uma casa, família ou paragem.
Não se pode olvidar, contudo, que isso não se deva por bravata mas por orgulho,
de suas tradições e para homenagear seus mestres, resguardando-se a honra (no
mor das vezes). Era comum a prática do dojo yaburi (desafio ao
dojô).
Certa
altura, por volta de 1906 chegou a Oquinaua uma
praticante de jujutsu (ou de judô, segundo algumas fontes) que desafiou a
todos da ilha a medir forças com ele, para provar que seu estilo de jiu-jitsu
era superior aos do Japão e da região. No dia aprazado, posto que fosse já
provecto (na casa dos setenta anos), no meio de vários lutadores, o mestre Itosu
não quis deixar sem resposta o convite e foi ter com o desafiante, que
interpelou o mestre, dizendo "que honra haveria de ganhar de um idoso?", mas
aquiesceu ao embate, por respeito ao nobre ancião. A luta foi decidida com
apenas um golpe.
Marcante
e decisivo, entretanto, foi um desafio que mestre Choki Motobu protagonizou.
Chegou ao Japão um navio russo, conduzindo um lutador de sambo (Jon Kirter), com porte
físico avantajado (quase 2m de altura) e capaz de cravar um prego na madeira
co'as mãos. O fito daquele lutador era divulgar sua modalidade de luta e, para
tanto, além das demonstrações públicas, que envolviam proezas, como enrolar uma
barra de ferro nos braços e quebramentos, foi lançado um desafio a todo o
país.
A nova correu até Oquinaua, sendo o desafio aceito pelos irmão Motobu,
descendentes da casa real e notórios expertos em artes marciais, além do caratê,
kobudo e gotende.
Dirigiram-se eles até o Japão. No dia da luta, tudo certo o embate foi decidido
com apenas um golpe na região do plexo solar. A vitória foi
considerada tão surpreendente que criou alvoroço e despertou de vez o interesse
pelo caratê.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Karate: A Arte das Mãos Vazias
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